DO ACONTECIMENTO HISTÓRICO AO ACONTECIMENTO DISCURSIVO:
O Massacre de Eldorado dos Carajás na Folha de S. Paulo
Massacre; MST; Folha de S. Paulo; Discurso.
O presente trabalho tem como objetivo analisar os discursos em funcionamento no Jornal Folha de S. Paulo, em reportagens publicadas a partir do massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido no sudeste do Pará em 17/04/1996. Este objetivo foi elaborado a partir da seguinte pergunta orientadora da pesquisa: Como se configura, discursivamente, na Folha de S. Paulo, o trabalho de produção de uma memória do Massacre de Eldorado dos Carajás? Nosso corpus é formado por dez reportagens que se estendem de 1996 a 2006 e cobrem tanto o Massacre, em si, como as posteriores ações do MST realizadas no mês de abril em protesto a esse ocorrido. As análises se voltam para as estratégias discursivas que o discurso dessa mídia coloca em funcionamento produzindo diferentes sentidos sobre o MST, dentre eles, a criminalização das ações daquele movimento social. As análises se desenvolveram à luz de pressupostos da Análise de Discurso (AD), de linha francesa, adotando como base os postulados de Pêcheux (2010), Maingueneau (2008) e Foucault (1971;1975). Para alcançar o objetivo aqui proposto, identificamos no espaço discursivo dessa mídia que, a partir do massacre de Eldorado dos Carajás, ela coloca em cena uma discursividade sobre a questão agrária no país, centrada, inicialmente, na voz de FHC, como um governo que articula forças políticas para resolver a problemática. No governo Lula, essa discursividade se desloca para a voz dos movimentos sociais, mas produzindo um confronto entre MST e Lula, construindo, assim, a imagem de um governante que encontrou soluções para a reforma agrária, no país. Nas análises, apreendemos três movimentos discursivos que tomam espaço na Folha de S. Paulo, a partir do Massacre de Eldorado de Carajás, os quais nos serviram de orientação par a organização do corpus: i) A transformação do acontecimento histórico (a acontecimento discursivo), num momento em que a mídia mobiliza diferentes discursos sobre o massacre produzindo um discursividade sobre o fato; ii) A mobilização de esferas políticas (governo federal, governo estadual, Câmara de Deputados, Senado Federal) sobre a questão agrária no país, a partir das lutas dos movimentos sociais do campo; iii) A construção dos processos de criminalização das ações do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra: do governo FHC ao governo Lula. Em todos estes movimentos discursivos, a Folha de S. Paulo ancora-se no argumento do direito à propriedade e relega ao campo da criminalidade as ações de luta dos trabalhadores rurais sem-terra.