ENCANTARIAS DA FLORESTA: um estudo de narrativas orais, memória e identidade da comunidade
Ramal dos Guedes, São Miguel do Guamá
narrativas orais; encantados; narradores; cultura; modernidade; Amazônia.
Os processos de construção de identidades das comunidades amazônicas estão ligados, de modo significativo, histórica, cultural e socialmente ao imaginário popular. Nesse contexto, os encantados fazem parte desse imaginário e do cotidiano das pessoas que vivem nessas regiões, ocupando um lugar importante em suas narrativas de vida, experiências e comportamentos. Essas narrativas seguem os seus caminhos por meio das vozes dos narradores que contam e encantam os seus ouvintes. Porém, algo está mudando a cultura de algumas comunidades da região amazônica na atualidade. Alguns encantados que faziam parte do cotidiano de muitas comunidades estão desaparecendo. Nessa perspectiva, busca-se por meio deste trabalho abordar as narrativas orais que envolvem os encantados da comunidade rural Ramal dos Guedes, localizada no município de São Miguel do Guamá - PA. O objetivo deste trabalho é averiguar porque as narrativas de encantarias estão em declínio na comunidade, já que no passado as histórias eram narradas e ouvidas com mais frequência. Deste modo, intentaremos apresentar os possíveis elementos que desvelem a ida desses seres para outro lugar ou o seu desaparecimento; discutindo, a favor disso, cultura; narrativa oral com ênfase na memória e identidade da comunidade e a relação dessas narrativas com o processo de identificação cultural e memória local. O corpus da pesquisa é constituído por análise de documentos e conversa informal realizada com treze moradores. As análises dos dados coletados indicam que os seres fantásticos eram presentes na vida diária e no imaginário do povo dessa localidade há algum tempo, mas segundo os moradores, com o desmatamento quase todos os encantados foram para a floresta grande, dentre eles destacam-se o Pretinho do Miritizeiro, o Bode da Ladeira e o Curupira. O ser que ainda habita essa região, segundo os narradores, é a Matinta Perera e alguns encantados do igarapé do ramal. As assombrações são vistas com menos frequência, enquanto os outros permanecem no imaginário da comunidade. Dentre os autores abordados neste estudo nos embasamos em: Pizarro (2012), Maués (2005), Laraia (2001), Cascudo (2006), Bhabha (2013) e Benjamin (1994).