A MEMÓRIA DA ORALIDADE NO LIVRO DIDÁTICO
Discurso; Memória; Oralidade; Escrita
O presente trabalho tem como objetivo analisar como a escola mobiliza, por meio do livro didático, uma memória discursiva da oralidade (DO) na relação com o discurso da escrita (DE). Para tanto, o caminho teórico da pesquisa parte dos estudos historiográficos da escrita, em que os autores procuram investigar e discutir sobre as razões históricas, políticas e ideológicas que conduziram a escrita a um lugar de prestígio em detrimento da oralidade. Mobilizamos, ainda, fundamentos teóricos da Análise de Discurso de vertente francesa, com o propósito de problematizar como a memória discursiva da oralidade e da escrita se entrecruzam na escola básica, quando esta se propõe a tomar a primeira modalidade oralidade como objeto de ensino. Elegemos como material de análise o Manual do Professor, que acompanha o livro didático “Singular & Plural: Leitura, produção e estudos de linguagem, 6º ano do ensino fundamental, autoria de Marisa Balthasar e Shirley Goulart. Entendemos que essa prática discursiva não é aleatória ou casual, ela se mantém presente nas práticas pedagógicas da escola básica em decorrência de um pano de fundo histórico de alguns discursos que tomam como base a noção de que o campo da oralidade não deve ser trabalhado na escola com a mesma intensidade e relevância para a formação do educando como que se trabalha a escrita. Esse discurso, por sua vez, tem relação com uma posição discursiva e política que coloca para as margens as práticas sociais e os sujeitos da oralidade. É a partir dessa compreensão que focalizamos a memória discursiva da oralidade agenciada por essas atividades, sob a hipótese de que prevalece nas atividades escolares muito mais um trabalho de oralização da escrita do que uma perspectiva de ensino que toma a oralidade em seu lugar próprio e com as suas especificidades. Defendemos que há na oralidade um espaço de constituição de sujeito e esse espaço não deve simplesmente ser “valorizado”, mas, efetivamente tomado como objeto de problematização. Nesse sentido, a oralidade não deve ser problematizada como o lugar do erro, da falta ou do déficit, mas um lugar que tem uma história, um espaço de materialização.