A MÍDIA COMO DISPOSITIVO DE FORMULAÇÃO E DE CIRCULAÇÃO DE SENTIDOS DO IDIOMA NACIONAL
Discursos; Dispositivos de controle; Língua Nacional.
O presente trabalho, situado nos estudos foucaultianos, tem como objetivo “analisar como a mídia digital e impressa agencia uma rede de formulações sobre a Língua Portuguesa e seus falantes, cujos sentidos se acumulam e se deslocam desde a colonização do Brasil”. O foco da pesquisa está nos sentidos produzidos no interior desses discursos, procurando compreender como a heterogeneidade linguística constitutiva de todas as línguas é tematizada, deslocada ou silenciada, à medida que entram no horizonte de circulação da mídia sentidos de norma-culta da língua portuguesa, a que convencionou-se chamar Língua Nacional. A composição do corpus se deu por meio da busca em mídias impressas e digitais a partir dos temas “língua portuguesa”, “língua nacional”, “português brasileiro”, “língua portuguesa no Brasil”. Essas pesquisas serviram de base para a seleção de revistas e sites, com foco no comparecimento de matérias sobre os temas de busca. De acordo com esse critério de seleção, definimos como material de análise 3 reportagens veiculadas nas revistas Veja, formato impressa (2001, 2007 e 2010) e de uma reportagem publicada no site do G1 (Jornal Hoje). As análises realizadas nesta primeira etapa da pesquisa aproximaram-se do método arqueológico foucaultiano, em que o enunciado, enquanto unidade elementar do discurso, deve ser analisado não como uma estrutura, mas como uma função que se exerce em sua verticalidade, na relação com as condições históricas. É nessa perspectiva que adotamos o conceito de “trajeto temático”, com o interesse em recortar os enunciados a partir do trajetos nos quais se inscrevem diferentes sentidos de língua nacional, na relação com outros domínios, especialmente o mercado de trabalho. Nesse sentido reunimos os enunciados, com base em suas regularidades enunciativas, em cinco trajetos temáticos: 1) A língua como um bem econômica e culturalmente rentável; 2) A língua inatingível pelo falante brasileiro; 3) Língua a serviço da política e o político da língua; 4) Ecos da língua colonial agenciados pela mídia. Trabalhamos com a hipótese de que os discursos sobre língua que circulam na mídia brasileira alimentam o arquivo de língua nacional atualizando memórias que conservam a hegemonia da língua portuguesa sobre as outras línguas e variações que integram o quadro linguístico nacional.