MARCADORES SOCIAIS DA DIFERENÇA: O Lugar de fala de Maria Firmina dos Reis na Obra Úrsula e as especificidades da mulher negra na literatura
Marcadores sociais da diferença; Literatura do século XIX; Maria Firmina dos Reis; Úrsula
O presente estudo tem como objetivo investigar os marcadores sociais da diferença na narrativa da escritora maranhense Maria Firmina dos Reis (1822-1917) e compreender de que forma a autora articula sua fala ao denunciar o patriarcalismo, o colonialismo e a escravidão nas obras Úrsula (1859) e “A escrava” (1887), bem como as especificidades da mulher negra. Para tanto, o corpus central escolhido para análise foi Úrsula, obra do período romântico e com forte teor nacionalista, estruturada em um prólogo, vinte capítulos numerados e nomeados e um epílogo final, que conta a trágica história de amor entre a musa romântica Úrsula e o bacharel Tancredo. A obra pode ser dividida em duas partes, sendo que a primeira apresenta as chamadas personagens principais na narrativa, pessoas brancas, revelando uma camada da sociedade oitocentista da época; e a segunda, com personagens periféricas da obra: escravos, sujeitos subalternizados. É desse lugar de periferia que Firmina apresenta Túlio, Pai Antero e Susana, a quem atribui uma voz que ecoa mundo a fora denunciando os maus tratos sofridos e o tráfico de pessoas que eram arrancadas de suas terras na África e trazidas para o Brasil. Já em “A escrava” (1887), busca-se analisar as características das personagens, violência/opressão contra
a mulher e, a situação da vida de Joana, uma personagem forte, negra escravizada, mãe de três filhos: os gêmeos Carlos e Urbano, vendidos quando crianças, e Gabriel, o mais velho. Firmina, por meio da loucura da personagem encontra uma forma para denunciar as marcas do tráfico de pessoas, valores sociais e morais de caráter quantitativo contidos no enredo do conto, no qual a autora utiliza a prosa de ficção como um meio de denunciar as injustiças presentes na sociedade patriarcal brasileira do século XIX. Considerando leituras outras acerca de Úrsula e de “A escrava”, utilizamos como suporte teórico autores como: Adler (2017); Bardin (2011); Bonnici (2007); Candido (2019); Duarte (2018); Duarte (2017); Evaristo (2009); Fanon (2008); Heywood (2008); Moisés (2003); Muzart (2000); Ribeiro (2018); Reis (2017); Lobo (2014); Orlandi (2002); Zamboni (2014), entre outros.