JÚLIA LOPES E A EDUCAÇÃO FEMININA: UM ESTUDO DO ROMANCE MEMÓRIAS DE MARTA
Educação; Autoria feminina; Conquista de direitos.
A presente pesquisa objetiva analisar a trajetória de inserção da mulher no campo educacional no Brasil do período entre séculos XIX-XX, a partir da análise do romance “Memórias de Marta” (1888), de Júlia Lopes de Almeida. Em nossa discussão, analisaremos a trajetória da personagem Marta, desde sua vida no cortiço em que mora com a mãe, sua formação na infância e juventude, até o alcance de sua independência ao exercer a função de professora. Nessa perspectiva, nosso trabalho apresenta um levantamento histórico do processo educacional brasileiro, considerando as legislações estabelecidas e as medidas implementadas no final período imperial e início do período republicano, estabelecendo as diferenças entre a educação destinadas aos homens e às mulheres. Posteriormente, vamos revisitar as produções acadêmicas que problematizam a participação da mulher na educação brasileira. Nesse momento procuramos analisar o discurso veiculado pelo texto ficcional de Júlia Lopes, conhecida pelo trabalho em prol da luta pelos direitos da mulher à educação. Embora nossa análise não esteja finalizada, é possível apontar que a construção do um processo educacional do Brasil, de modo geral, se deu de modo lento. Inicialmente, desenvolvia-se uma formação voltada para a religião, ministrada por Jesuítas. Após a transferência da corte portuguesa para o Brasil, os esforços voltaram-se para a oferta de cursos de formação superior, a fim de manter os filhos varões da elite. Os ensinos primários e secundários pouca atenção receberam, uma vez que não se compreendia o processo de formação educacional do individuo de forma contínua. Voltando nossos olhares para a educação feminina, maiores foram as dificuldades impostas. Consideradas inferiores intelectualmente, a evolução da dinâmica de organização da sociedade brasileira, aliada à luta por direitos hoje reconhecidos como essenciais ao individuo, cedeu espaço para a participação feminina na educação, como aluna e, posteriormente, professora. Acreditamos ser relevante o nosso estudo na medida em que historicizamos o processo da conquista de um direito por muito tempo negado à mulher, a partir da análise da obra de uma autora pouco conhecida nos dias de hoje, mas que muito contribuiu para a visibilidade das mulheres, escritoras ou não, durante sua vida. Como aporte teórico para nossa análise destacamos Almeida (1998), Heller (1997), Lopes, Faria Filho e Veiga (2000), Del Priore (2011), Lajolo e Zilberman (1998), Muzart (2004), Telles (2012), Razzini (2000), Marinho (2001), Bernarde (1988), dentre outros