PỲT MẼ KAXÊRE (SOL E LUA) E HÁKTI MẼ KUHÝ (GAVIÃO E FOGO): MITO E TRANSFORMAÇÃO HISTÓRICA ENTRE OS GAVIÃO
Mito; História Indígena; Resistência; Povo Gavião.
A pesquisa analisa as formas de transmissão, elaboração e reelaboração construídas ao longo do tempo pelos narradores do povo Gavião no mito Pỳt mẽ Kaxêre (sol e lua) e Hákti mẽ Kuhý (gavião e fogo). Os mitos do “Sol e Lua” e “Gavião e Fogo” reportam, dentre outros, ao processo de criação do mundo, do surgimento das habilidades do povo Gavião e da tessitura da alteridade com outras sociedades indígenas e não indígenas. Nesse sentido, são acionados recorrentemente tanto para explicar o passado ancestral, as festas e as lutas pela sobrevivência no passado mais recente de contato com o mundo ocidental, como também são reelaborados a partir dos contatos e transformações históricas, tais como o deslocamento forçado para a Terra Indígena Mãe Maria, no sudeste do Pará, o impacto das práticas extrativistas predatórias, bem como a relação com os ditos empreendimentos da mineradora Vale S/A e Eletronorte. Desse modo, o narrar mítico nesta dissertação, trata não das versões ou traduções do mito em si, mas principalmente de como determinados narradores indígenas mobilizam no interior das condições históricas e culturais de contato um dos mais significativos predicativos do mito, que seria o seu aspecto transformacional. Ancorada nos aportes metodológicos da História Oral e na interface com a literatura antropológica, foram realizadas entrevistas com os mestres da cultura, lideranças e com alguns jovens. Os mitos se apresentam na voz dos narradores como chave de leitura para fortalecer as relações de resistência frente aos empreendimentos econômicos ocidentais, propõe estratégias para dirimir as rivalidades internas entre as múltiplas aldeias e principalmente surpreende as pretensas apropriações da religião cristã que se faz presente nas inúmeras igrejas evangélicas, principalmente por englobar ensinamentos cristãos e passagens de textos bíblicos aos elementos próprios da mitológica Timbira.