A CUBAGEM DE MADEIRA: INVESTIGANDO SABERES COMPARTILHADOS EM SERRARIAS DE GOIANÉSIA DO PARÁ SOB A PERSPECTIVA DA ETNOMATEMÁTICA
Cubagem de Madeira, Etnomatemática, Comunidade de Prática.
A presente pesquisa tem como objetivo analisar saberes mobilizados a partir da prática de cubar madeira em serrarias numa perspectiva da Etnomatemática e suas convergências com uma comunidade de prática. Para isso, partimos da questão de pesquisa: em que termos etnoconhecimentos são mobilizados na prática de cubar madeira em seu estado bruto (toras), e durante seu beneficiamento em serrarias de Goianésia do Pará sob uma perspectiva da Etnomatemática, e de que forma converge com uma comunidade de prática? O estudo se justifica pela necessidade de compreender como os trabalhadores das serrarias desenvolvem, organizam e transmitem seus conhecimentos técnicos e matemáticos no cotidiano. A cubagem da madeira, enquanto prática essencial para a medição, beneficiamento e comercialização da matéria-prima, envolve cálculos volumétricos, estimativas, proporções e técnicas adaptadas às condições específicas do trabalho. Tais saberes são adquiridos por meio da interação social e da experiência prática, sem necessariamente recorrer à matemática formal ensinada na escola. Para alcançar o objetivo proposto, adotamos uma abordagem qualitativa e utilizamos instrumentos e técnicas inspiradas no método etnográfico, incluindo observação, entrevistas semiestruturadas, fotografias e registros em diário de campo. Esses procedimentos permitem apreender as estratégias utilizadas pelos trabalhadores, seus processos de aprendizagem e as formas de compartilhamento do conhecimento técnico dentro da comunidade. A Etnomatemática, conforme proposta por D’Ambrosio (1991), contribui para evidenciar os conhecimentos matemáticos implícitos na atividade laboral, reconhecendo-os como parte de um sistema de saberes culturalmente situado. Além disso, a Teoria da Comunidade de Prática, de Wenger (1998), constitui o eixo analítico que auxilia na compreensão da aprendizagem social dentro das serrarias. Esse referencial teórico permite investigar como os trabalhadores ingressam na prática da cubagem, passando gradualmente de aprendizes periféricos a especialistas experientes. Espera-se que os resultados da pesquisa demonstrem que a cubagem da madeira envolve conhecimentos matemáticos, adquiridos e aprimorados no contexto da prática profissional. A análise deverá revelar que os trabalhadores utilizam estratégias próprias para lidar com variações nas dimensões e qualidade da madeira, mobilizando saberes que integram intuição, experiência empírica e técnicas sistematizadas. Além disso, espera-se identificar mecanismos de transmissão de conhecimento, nos quais trabalhadores mais experientes desempenham o papel de mediadores, auxiliando na inserção de novos membros na comunidade de prática. Por fim, os achados da pesquisa poderão contribuir para a valorização dos conhecimentos matemáticos presentes em contextos não escolares, ampliando a compreensão sobre os processos de aprendizagem e organização dos saberes em atividades laborais. Ao enfatizar a Etnomatemática, este estudo busca reconhecer os saberes matemáticos emergentes da prática da cubagem da madeira, evidenciando como esses conhecimentos são construídos e aplicados no cotidiano dos trabalhadores. Nesse contexto, a Comunidade de Prática surge como uma interseção fundamental, permitindo compreender como esses saberes são compartilhados, transmitidos e aprimorados coletivamente. Assim, reforça-se a legitimidade da matemática presente na prática, valorizando-a como um conhecimento culturalmente situado e essencial para a dinâmica produtiva das serrarias.