REDES HERDADAS: Um estudo etnomatemático sobre a geração, organização e difusão de saberes tradicionais da pesca artesanal na Vila dos Pescadores, em Bragança - Pará
Etnomatemática. Decolonialidade. Cultura. Pesca Artesanal. Etnografia Crítica.
Este estudo, aqui apresentado, objetivou investigar a dinâmica dos processos cognitivos geradores de conhecimentos etnomatemáticos, presente na tradição da prática de pescadores artesanais, residentes na Vila dos Pescadores, no município de Bragança – Pará/Brasil, a partir das perspectivas de diferentes gerações. Metodologicamente, a pesquisa foi realizada com uma abordagem qualitativa de inspiração etnográfica, baseada na etnografia crítica a partir dos pensamentos de Thomas (1993) e Trueba (1999). Foram realizadas visitas à comunidade entre os meses de outubro de 2022 e janeiro de 2023, onde foram realizadas entrevistas e observações da prática da pesca com seis pescadores artesanais, para produção de dados. A fundamentação teórica foi abordada a partir da Etnomatemática, conforme D’Ambrosio (2008, 2009, 2013) e Vergani (2007), tendenciando um viés decolonial como opção de resistência à opressão por parte do conhecimento científico moderno e hegemônico na esteira de Quijano (1992), Santos (2013), Grosfoguel (2013), Walsh (2019) e Maldonado-Torres (2020) e contra colonial a partir de Bispo (2015) e Rufino (2019). O movimento selecionado para a interpretação dos dados foi a Análise Textual Discursiva (ATD), segundo os estudos de Moraes e Galliazi (2011), e por meio da abordagem fenomenológica hermenêutica, foi obtido parte da compreensão dos fatos que se mostraram e de como ocorrem os processos de geração, organização e difusão dos saberes e fazeres tradicionais da pesca e como são percebidos por diferentes gerações. Como resultado da análise, foi possível identificar que a geração dos saberes etnomatemáticos ocorre a partir das observações dos acontecimentos do presente, com base em conhecimentos já estabelecidos e da adaptação aos novos saberes e tecnologias que interagem com o modo tradicional de vida na comunidade, a organização intelectual e social dos saberes se dá a partir da necessidade de sistematizar os conhecimentos de sobrevivência e transcendência conforme as transformações naturais e sociais que ocorrem na região e por fim, a difusão de saberes ocorre a partir das relações familiares na pesca, a principal forma de aprendizagem é a observação exaustiva da prática pesqueira no núcleo familiar, há indícios de que a escassez do pescado, causada pela ampla atuação da pesca industrial, pode contribuir para a não transmissão dos conhecimentos próprios da cultura para as novas gerações daquela comunidade.