A ORGANIZAÇÃO DE LIDERANÇAS SOCIAIS NO ENFRENTAMENTO DA INADEQUAÇÃO INFRAESTRUTURAL EM EMPREENDIMENTOS DO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA EM MARABÁ: ANÁLISE DO RESIDENCIAL VALE DO TOCANTINS
Políticas Públicas. Política Habitacional. Programa Minha Casa, Minha Vida. Provisão de infraestrutura. Lideranças
As transformações no espaço urbano são marcadas pela expansão do capital, as quais inserem a habitação como mercadoria determinada pela propriedade privada do solo. Para o seu acesso exige-se uma renda monetária que não é acessível a todos, o que conforma uma desigual apropriação da ocupação do solo pelas diferentes classes sociais. A relação entre o direito à moradia e à cidade em oposição à acumulação do capital é uma contradição construída pelas relações capitalistas, e expressa a questão habitacional nas cidades. O Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) foi instituído em 2009 e representa a principal política pública de habitação no Brasil a partir de então, sendo implementado no Estado do Pará e em cidades amazônicas. Marabá, cidade média da Amazônia Oriental, é marcada por impactos advindos de projetos federais de desenvolvimento e mais tarde pela expansão urbana desenvolvida pela “financeirização da habitação”. O presente estudo analisa a dinâmica de organização de lideranças de moradores do conjunto Vale do Tocantins, implementado pelo PMCMV no município de Marabá-PA, no processo de construção de estratégias de resistência frente a gestão municipal para garantir a provisão da infraestrura. A pesquisa é orientada por referenciais teóricos que discutem a produção do espaço urbano na dinâmica das cidades capitalistas e seus reflexos para a classe trabalhadora, especialmente a questão habitacional e urbana, o movimento de organização dos sujeitos, políticas habitacionais no Brasil, no Pará, com destaque para as especificidades referente às realidades na Amazônia. A abordagem metodológica baseia-se em fontes e dados empíricos. As técnicas de investigação utilizadas são pesquisa bibliográfica, documental e de campo, particularmente no município de Marabá. Para a coleta de dados, utilizou-se a aplicação de formulário estruturado com as variáveis: perfil do morador; trabalho e renda; aspectos da situação de moradia; situação de serviços públicos; participação política no processo de implementação do empreendimento e percepção das lideranças quanto a construção da associação do residencial e os resultados obtidos por meio da organização coletiva para o atendimento da questão infraestrutural. A pesquisa de campo, realizada no segundo semestre de 2020, alcançou 4 (quatro) sujeitos reconhecidos como lideranças. As análises identificam que a vulnerabilidade urbana no residencial impulsionou a organização dos moradores e o reconhecimento de lideranças, que no seu processo de construção não contou com a presença e apoio da gestão local. Diante disso, os resultados obtidos por esta dissertação evidenciam que a provisão habitacional do residencial Vale do Tocantins, no núcleo São Félix, provocou a articulação de lideranças e formação de associação para mobilização de estratégias para a extensão de infraestrutura e serviços urbanos até os moradores. Na mesma direção, verificou-se baixa participação popular e o enfraquecimento da associação, fatores que implicam no reduzido avanço das pautas mobilizadas e na presença simultânea de ações individuais e na ação de instituições não governamentais atuando no processo de reivindicações para o atendimento de direitos coletivos.