DO LUTO À LUTA: MEMÓRIA E SUBJETIVIDADE NA LUTA PELA TERRA NO SUL E SUDESTE DO PARÁ
MEMÓRIA; SUBJETIVADE; LUTA PELA TERRA; LUTO
a pesquisa pretende refletir sobre a reelaboração de memórias em episódios de
violência cometidos contra trabalhadores rurais no Sul e Sudeste do Pará. Entre os dias 13 e 18
de junho de 1985 ocorreu o assassinato de camponeses na Fazenda Ubá, município São João do
Araguaia, o caso ficou conhecido como “Chacina da Fazenda Ubá”, sendo lembrado ainda hoje
pelos familiares das vítimas e moradores locais tanto pelo requinte de crueldade cometido contra
as vítimas, tais como tiros na nuca, nas costas e espancamentos, como pela conhecida morosidade
do poder judiciário em julgar os crimes. O caso foi julgado apenas em 2006, e, a cada retomada
do processo burocrático (depoimentos, relatórios, evidências em geral), emergiram processos de
rememoração, intensificando a revisitação das perdas e o prolongamento interminável da
Chacina. A participação na equipe interdisciplinar de apoio às vítimas da violência para o
julgamento de 2006 tinha o objetivo de remontar o cenário da época: recuperar testemunhas
dissipadas em várias cidades e até mesmo outros estados, após longos anos da ocorrência dos
fatos, realizar buscas para atualizar endereços e entrar em contato com esposas de trabalhadores
assassinados, filhos e outros familiares, assim como testemunhas e outras pessoas envolvidas. Na
ocasião foram realizadas visitas em assentamentos, vilas, cidades, povoados, em Marabá, São
João, Eldorado dos Carajás, São Domingos do Araguaia, Sítio Novo – Tocantins. Registros
históricos evidenciam que os crimes contra a vida de trabalhadores rurais na região, até os dias
atuais, envolvem um ritual de tortura com golpes de facões e queimaduras, mutilação dos corpos,
agenciando uma subjetividade da morte, do medo, através das práticas cruéis empreendidas nos
assassinatos e ameaças de morte, com o intuito de disciplinar os atores sociais envolvidos na luta
pela terra, além de promover os desmontes dos movimentos sociais. Através dos dados do
processo, fotografias, experiências do julgamento de 2006 e narrativas dos envolvidos, este
escrito busca analisar as várias mudanças, permanências e sentidos dados na memória daqueles
que perderam familiares, valorizando, principalmente, a relação cuidadosa entre o luto e a
subjetividade.