LITERATURA ORAL DE JACUNDÁ, PARÁ: processos de identificação cultural de mulheres benzedeiras
Amazônias; Mulheres; Benzeção; Desobediência epistêmica
O presente trabalho de pesquisa tem como objetivo produzir uma reflexão sobre resistência epistêmica na Amazônia oriental brasileira a partir de narrativas orais de mulheres benzedeiras. Sua justificativa é pensar que as narrativas de mulheres benzedeiras se constituem como um objeto cultural capaz de problematizar discursos hegemônicos que excluem a identidade de sujeitos marginalizados social e culturalmente. Pensando ainda que essas vozes podem e devem ser estudadas como discursos marginais capazes de problematizar o centro cultural hegemônico. Os procedimentos metodológicos adotados para essa construção foram com base em referenciais bibliográficos encontrados em materiais físicos e virtuais nas bases da CAPES, Google Acadêmico e SCIELO, e pesquisa em campo para a coleta de dados por meio de entrevistas/diálogos, ouvindo e registrando, por meio de gravações, as narrativas orais de experiências de vida de cinco mulheres benzedeiras do município Jacundá, sudeste do Pará, com mais de 60 anos, que após serem transcritas e textualizadas parcialmente, integraram os anexos desse trabalho. Para essa construção levou-se em consideração dois aspectos fundamentais: primeiro, as práticas de benzeção desenvolvidas na Amazônia Oriental são saberes imateriais, herança ancestral, vozes que podem e devem ser estudadas como objeto cultural; e segundo, como filha de benzedeira pude constatar a presença dessa prática tradicional de cura e tratamento para o corpo e mente, presenciando também muitas lutas da minha mãe para resistir ao preconceito, exclusão e marginalização que se espraiava aos descendentes, me despertando o interesse por discutir os processos de identificação cultural e resistência de mulheres que praticam a benzeção, usando narrativas orais de histórias de vida, como exercício de reelaboração da memória que se processa no esquecimento. Ainda a pesquisa tem como aspecto conclusivo, que as narrativas dessas mulheres benzedeiras são lutas contra a supervalorização do saber em detrimento a outros, é um ato de desobediência epistêmica.