Fluxos do saber-poder e fissuras de resistência: A Produção de subjetividades surdas em Marabá-PA
Sujeitos surdos. Subjetivação. Governamentalidade. Resistências
A problematização dos processos de subjetivação da surdez na Educação Básica constitui o principal interesse desta pesquisa. Com base nesse interesse de pesquisa, o objetivo central do trabalho é analisar em narrativas de pessoas surdas como estas subjetivam suas experiências de formação na Educação Básica e como nelas se manifestam efeitos de governamentalidade e de biopolítica, assim como emergem as resistências aos efeitos do poder. Para o alcance do objetivo geral estabelecemos os seguintes objetivos específicos: 1) Identificar nas narrativas das pessoas entrevistadas discursividades que remetem a efeitos normativos de governamentalidade atuando na constituição subjetiva dos sujeitos surdos; 2) Apreender na materialidade dos enunciados regularidades discursivas que questionam que questionam os efeitos de poder e os dispositivos de normalização e regulação das práticas educativas dos sujeitos. A pergunta norteadora do objetivo geral da pesquisa indaga sobre os efeitos de sentidos produzidos nessa relação entre os ordenamentos da governamentalidade e as contracondutas dos sujeitos que de alguma maneira recusam os atravessamentos do saber-poder, embora essas microlutas não sejam lineares e nem sempre bem definidas. A pesquisa adota uma abordagem foucaultiana dos estudos discursivos, problematizando as relações entre poder-saber, governamentalidade e biopolítica. O corpus da pesquisa é composto de três narrativas obtidas a partir de entrevistas realizadas com três pessoas surdas que já concluíram a Educação Básica em Marabá, Pa. Essas narrativas, compreendidas como discursos, são analisadas como parte de uma rede de enunciados que atualizam discursividades já produzidas socialmente sobre as pessoas surdas, de acordo com as posições discursivas por elas assumidas em dadas condições históricas. A sistematização do corpus orientada por uma perspectiva arqueogenealógica nos levou a identificar, na rede de enunciados, regularidades discursivas que reunimos nos seguintes eixos analíticos: 1) Normatividade Linguística e Exclusão Escolar 2) O governamento dos corpos mediado pela interdição do olhar, pela obrigatoriedade e pela negação do outro 3) O fracasso antecipado pela racionalidade escolar 4) Instrumentos pedagógicos de docilização dos corpos 5) Antíteses em Movimento: inclusão/exclusão como dispositivos de governamentalidade 6) A reafirmação da presença surda mediada pela sombra do ouvinte 7) Resistências e possibilidades de reconfiguração do poder 8) A cultura da surdez como um campo profícuo de experiência profissional.